Romance assombrado


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Só escutei tambores soando forte dento de mim. O silêncio tomou conta do lugar, e veio um estranho sentimento de vazio no peito. Plantas secas caiam sobre minha cabeça. O vento secava minhas lágrimas ao passar da noite. Vermelho sangue se espalhava pelo chão, mas não pude fazer nada. Confesso que tu foste meu primeiro amor, e não quero te perder assim, de repente. Éramos únicos debaixo daquele mundaréu de estrelas e mesmo com todo o pavor e pudor tu me veio deslizar as mãos por entre os cabelos. Beijou-me como se quisesse permanecer pra sempre junto a mim. Eu sentia que seu tempo estava esgotando. A força dos seus lábios aos meus enfraqueceu. Deitei – me junto a ti. O silencio tomou conta de seu coração. Ouvi. Senti meu mundo desabar como se não tivesse mais um motivo pra sorrir. Caminhei até a minha casa. Chorei. Rostos desconhecidos na rua me olhavam assustados, deviam estar pensando algo esquisito sobre mim pelas suas expressões faciais, mas não liguei, ninguém entende o que eu realmente estou sentindo.

Passou-se um mês de sua morte. Prometia mim mesma que nunca iria te esquecer, mesmo que outra pessoa queira ocupar o lugar que reservei pra ti no meu coração. Naquele momento eu estava em casa, e de repente a fechadura fez um barulho. Escondi-me em baixo da mesa de centro da sala. Eu estava com medo, pois o bairro inteiro estava faltando luz, os galhos secos sacudiam lá fora, a chuva forte deixava marcas na janela, e eu estava sozinha em casa.

- Você vai deixar eu entrar ou não? Vim mais rápido que pude meu amor. Vai deixar eu entrar ou não? Estou sangrando um pouco ainda, mas está tudo bem!

- Vaaaaaaaaaaaaaaaai embooooooooooooooooora! – gritei.

- Não quer que eu veja você agora? Esta nervosa demais não é? Mas é só um pouco de sangue, eu sei que você não tem medo! É normal!

Meu corpo ficou tenso, não conseguia pronunciar mais nada. Ele quis entrar, girou a maçaneta várias vezes, mas não abri. Fiquei ali ainda de joelhos e as mãos apoiadas no chão. Podia ser alucinação, loucura, fruto da imaginação. Meu medo atingiu tal ponto que me senti em um outro estado de realidade, eu estava paralisada. Conseguia escutar através de mim. Apertei meus olhos, pensei que quando abrisse novamente tudo iria voltar ao normal. Todos os sons calaram, menos os galhos secos que batiam contra parede.
Sai pela porta dos fundos. Corri. Corri mais rápido que pude. Dei a volta no quintal. Encostei meu corpo na parede, olhei vagarosamente para a porta da frente. Não havia ninguém, a rua estava simplesmente deserta.

(Vivian Fernanda)