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Voou em um assopro. E não demorou muito pra cair no chão. Era tão leve que parecia ser delicado, mas por si só, só a penúgem sabe o peso que tem. Pousou, pisaram-na, flutuou com o vento e quis ir pra bem longe. Não estou falando de algo concreto, estou falando do amor. Amor não, paixão. Perdoe-me, isso não deveria ser paixão, devia ter só mais um vício ou talvez uma mania, quem sabe?

Vivian Fernanda

Anestesias da alma


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A culpa é minha de tentar eternizar tudo. Olho para trás e sinto tudo novamente. O tempo só carrega lembranças e hoje um nó se instala na minha gargante que só chega para avisar que tudo mudou, que não posso viver do passado e que vivo por palavras e frases constantes que anestesiam a memória.
Mas a vida me ensinou a sorrir, e hoje a tristeza não é bem vinda. Aprendi a olhar para frente e tornar as coisas a minha volta um lugar repleto de coisas boas e também de novas amizades, por isso sobrevivo, pois ninguém vive sozinho.  

(Vivian Fernanda)

3) É como ter asas e voar


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E tudo estava prestes a acontecer. Era como repassar seus pensamentos em um papel, como assoprar letrinhas no vapor do café, quando se está em um sonho bom e acordar sorrindo, ter asas e voar, pegar uma borboleta neon... e suspirar para virar realidade.
Mas quando não se espera demais, as coisas se tornam mágicas demais, tem mais som, tem mais cor, tem mais movimento, e elas ficam mais surpreendentes.
E foi assim que aconteceu.
Deitada no sofá, lá estava ela com sua velha reprodução de músicas no máximo. Tudo ao seu redor era vazio, frio e sem graça.
Mas...
Ele veio. Apareceu de surpresa, e sem perceber foi colorindo as paredes gélidas com um tom agradável. E em uma prosa longa ela pode perceber que seus argumentos foram insignificantes e o que ela sentia não era apenas amizade, era paixão.
A visita mudou seu astral. Sentiu-se aliviada, feliz e errada. Errada por ter quase estragado seu namoro, por não ter usado as palavras certas, feliz por tê-lo consigo, aliviada pelo prazo de infelicidade ter esgotado e pelas desculpas trocadas.
Agora o que ela mais quer é espalhar para aquelas de mentes bobas que não pode amar pela metade, que falem o que está incomodando, mas não percam a cabeça, porque agir sem pensar é tolice, porque podemos concertar enquanto ainda há tempo antes que o próprio engula as chances. E que perdoar não é bobagem se for com sinceridade, orgulho sim.
P.s: Se ele não fosse vê-la, ela iria falar com ele, porque ela gosta muito, assim como ele. E se ela gosta, ela cuida, se cuida, vai atrás.
Segredo: E ela sou eu, isso foi real.

(Vivian Fernanda)

2) Depois das 8


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"Não quero disperdiçar a chance de ter encontrado você, hoje o que eu mais quero é fazer você feliz. (Charlie Brown Jr. - Longe de você)"


O um mundo se torna cinza e nada tem mais graça. Parece que vento traz a frieza e congela o tempo e as palavras, que se tornam cada vez mais ásperas a cada segundo. Hoje o abraço perdeu o sabor e o sorriso não tomou espeço desse imenso vazio do quarto. O travesseiro já encheu de saudade e está transbordando arrependimentos que estão escapando dos olhos da menina.
O sol veio lhe fazer uma visita, mas os passarinhos já não cantam mais, respeirando a linda moça que ali descançava.
Levantou. Se olhou no espelho. Palidez pura. Mal acreditava nas palavras cuspidas no rosto de uma pessoa que mora em seu peito em que ela as atirou.
Seu coração batia em descompaço doentio que fazia com que seu rosto ficasse mais apagado, branco pó.
Cinzas são as flores do seu jardim. As nuvens até resolveram se esconder para não assistir ao espetáculo de choros e lamentações do grande passo em falso.
E o que ela quer?
Ela quer voltar no tempo e consertar o grande estrago, ou até mesmo fechar os olhos e dormir para esquecer do que fez, mas como o presente não deixa regredir, resolveu ir com o futuro para que chegasse às nove para pedir perdão e grifar o sorriso no rosto de volta, porque só assim o sol iria brilhar. Mas o dia mal começou...

*continua*

(Vivian Fernanda)

1) vende-se lembranças?


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Eu não aguento mais chorar. Não aguento ter que me importar com cada migalha do teu sorriso, de ter que carregar você no meu pensamento e a saudade no peito que me consome a semana inteira e recomeça nos finais de semana.
Eu gosto tanto que me importo demais, tento arrancar de todas as formas um sorriso pra colocar no teu rosto, em vão. Me sinto irritante por isso, me sinto culpada por todos os meus defeitos, que até tive que pedir desculpas por ser assim. Tô me sentindo incapaz de tudo.
Eu simplesmente não queria que fosse assim, não estou querendo agora e não quero mais. Quero acabar logo com essa droga que me consome a cada dia.
Não quero mais escutar tua voz no telefone e teu riso fácil. Não aguento mais ficar esperando alguma coisa de ti, mesmo sabendo que nada vai sugir derrepente. Eu só quero abraçar a solidão, porque é a única coisa que me faz bem agora. Não quero mais sentir o calor dos teus braços me embrulhando. Não quero ter que escutar o timbre da tua voz. Não quero ouvir aquele repertório de músicas que me fazem lembrar você, porque agora só me fazem chorar e me fazer incapaz de te agradar a cada instante. Não quero mais nada. Nada.

Acho que a cada dia que passa eu não te deixo feliz, e a cada dia que passa eu fico me corroendo mais ainda.

É, acabou.

*continua*

(Vivian Fernanda)


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Minhas pernas exaustas imploravam por descanso. Sentei-me, envolvida pelas notas agudas da guitarra. Eu suava, tinha gritado, pulado e cantado as músicas da GBB. GBB, boa banda, bom som, bom guitarrista, muito bom. Especialmente bonito. Feito sob medida, todos os traços de seu lindo rosto eram um convite para que minhas mãos o acariciassem. Esquece. Não vale a pena sonhar com ele. Tomei do refrigerante já sem gás. Meio amargo, não, não era refrigerante. Milhares de pessoas se espremiam, respirando uma só nuvem de ar. O calor me incomodava. A batida acelerada da bateria foi substituída por uma música lenta, de uma cantora de voz estridente, os vultos se moviam lentamente, disputando espaço. Estava mais escuro, ou era minha tontura que escureceu minha visão?

-Posso me sentar a seu lado? -vozes como esta me faz sentir arrepios, principalmente com o calor das palavras tocando meu pescoço, então afirmei com a cabeça. Minha visão embaçada do todo não me ajudava a distinguir feições, mas aquela era inconfundível. Todos os anjos tocam um instrumento celestial, o meu tocava guitarra. Sorri desnorteada e acenei com a cabeça. Ele sentou suavemente, perto o bastante para que eu pudesse sentir seu calor. Estremeci.

-Refrigerante? – ele apontou pro meu copo

-Não tenho certeza. – pegou o copo da minha mão e aspirou o perfume do líquido.

-Vodcka.

-Opa. – solucei como uma boba. – Acho que já está na hora de ir para casa... – cambaleei até a saída, empurrando as pessoas a minha volta, tropecei nos meus próprios pés desengonçados, eu não podia controlá-los, eu ia cair. Senti uma mão passar pela minha cintura.

-Quer ajuda? – me deu um sorriso ardente, acompanhado de um par de olhos atrativos. Meus músculos relaxaram e meu corpo todo se transformou numa solução maleável, deixei que o rapaz forte me carregasse.

Entramos num Impala 67, com bancos de couro brilhante. Um carro com um aroma agradável. Fui colocada no carro como uma criança.

-Sabe onde é minha casa? – perguntei desafiadoramente.

-Eu esperava que me dissesse. – ele rebateu.

-É melhor que eu vá sozinha, não quero incomodá-lo – o guitarrista dos meus sonhos estava querendo me levar em casa e eu estava querendo fugir, é isso?

-Eu ainda tenho tempo pra fazer uma boa ação – deu uma piscada charmosa.

Conversamos durante o percurso inteiro, ri, disse coisas indevidas e culpei a Vodcka. E então o Impala freiou e de repente eu estava no portão da minha casa. Com um garoto encantador a minha frente.

-Bom, está em casa. – sorriu.

-Obrigada, meu herói... – tapei minha boca, estabanada!

-Herói? – soltou uma risada. – Bom, então de nada.

Ele me deu um beijo estalado na bochecha. Tropecei. Foi então que meus lábios se tornaram dele. Pude sentir todos seus sabores misturados a Vodcka. Movíamos-nos num movimento sincronizado. Por um instante ele me fez sentir completa.

Abri meus olhos por um instante e eu estava sozinha, no silêncio de um quarto coberto pelo breu da noite. Ninguém além de uma garota procurando um guitarrista. James. “Foi um sonho?”. Minha mente martelava a mesma pergunta. “Sonho?”. Meu coração batia no ritmo da minha mente confusa. “Sonho?”. Os raios de sol entravam pelas brechas da minha janela. “Sonho?”. Eu iria descobrir com ele. Ou aumentar minha reputação de louca, talvez. Minhas veias pulsavam a procura de uma única resposta.

Foi mais um sonho?

(Vivian Fernanda + Letízia)

Luto: a morte de um sentimento


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Os dias parecem anos. O sol parece ter desistido de irradiar meu quarto, deve ter ido viajar sem dar notícias. Percebo que ele não transmite mais aquela velha sensação de que tudo ficará bem em um estalar de dedos.
Uma infinidade de emoções frenéticas que aqui passam de segundo em segundo, e sinto-me incapaz de falar, olhar, sentir tudo outra vez.
Desperto sem energias para dar um impulso e poder levantar de vez, logo nesse dia bonito, mas que ao mesmo tempo me deixa escurecer.
O sol deve estar brincando de se esconder envolta da janela, assim como brinca com o tempo e com a lua. E a terceira pessoa deve gostar de brincar com o meu coração, que dança sem parar quando ela surge na minha frente.
Os dias parecem anos! E os dias parecem anos quando a saudade de poder fazer minha mente projetar sua imagem aqui, quando a lembrança de um abraço surge apressado, de um simples sorriso, a voz, o cheiro delirante, a companhia que fazia flutuar pelo espaço, ou até mesmo uma música que me faz lembrar dos momentos que vivi na expectativa de ser intenso, leve, demorado e da votade de que nunca acabe. Em vão.
Tem dias que me sinto forte, com a esperança de que o passado volte a ser futuro, mas é só lembrar que eu não te tenho aqui, me faz te querer mais, de te querer agora e pra sempre, não apenas pra me ver, pra eu guardar o teu barulho, a tua música, a tua companhia.
E quando me perguntam sobre você, digo que está bem e que agora deve estar feliz, mesmo que seja só o meu ponto de vista sendo sincero e a minha tentativa infeliz e incompreensível de tentar fugir da realidade. Sempre tive a impressão que ao ver brilho nos olhor e um sorriso sincero, seria uma forma de se chocar com a felicidade, e te julguei assim por ver você ao lado dela... contente.
Não digo que estou bem porque não há motivos para estar bem e também não vou dizer que passado é passado porque passado é história, e é a nossa história, e também não vou dizer que não vou deixar um gostinho de que estou me corroendo por dentro para me mostrar mais viva e deixar que o vento carrege essas más bagagens pra longe.
Dizem que o tempo apaga tudo. O nosso tempo pode ter passado, mas confesso que as lembranças não se apagaram ainda! Ainda. E estão pregadas no meu museo de recordações. E tento finjir, não me importar, para poder me livrar de vez do que me faz mal, e procurar uma coisa que possa trazer o brilho de volta nos meus olhos e no chão do meu quarto, nas manhãs quando acordo e transformar um momento em uma eternidade, e não um dia em anos, demorados, que nos fazem tentar pegar o controle da televisão e em apenas um toque, poder mudar o momento, a estação, o dia, a hora, a data, a companhia, o gosto, a expressão, o gesto, o abraço, o cheiro, o sorriso, a pessoa e o sentimento.
Queria poder viver desde o começo, desde cada partícula, mas acho que não quero viver o final novamente.

Agora eu quero só paz.

Só paz.

Só.

Paz.

(Vivian Fernanda)