Luto: a morte de um sentimento


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Os dias parecem anos. O sol parece ter desistido de irradiar meu quarto, deve ter ido viajar sem dar notícias. Percebo que ele não transmite mais aquela velha sensação de que tudo ficará bem em um estalar de dedos.
Uma infinidade de emoções frenéticas que aqui passam de segundo em segundo, e sinto-me incapaz de falar, olhar, sentir tudo outra vez.
Desperto sem energias para dar um impulso e poder levantar de vez, logo nesse dia bonito, mas que ao mesmo tempo me deixa escurecer.
O sol deve estar brincando de se esconder envolta da janela, assim como brinca com o tempo e com a lua. E a terceira pessoa deve gostar de brincar com o meu coração, que dança sem parar quando ela surge na minha frente.
Os dias parecem anos! E os dias parecem anos quando a saudade de poder fazer minha mente projetar sua imagem aqui, quando a lembrança de um abraço surge apressado, de um simples sorriso, a voz, o cheiro delirante, a companhia que fazia flutuar pelo espaço, ou até mesmo uma música que me faz lembrar dos momentos que vivi na expectativa de ser intenso, leve, demorado e da votade de que nunca acabe. Em vão.
Tem dias que me sinto forte, com a esperança de que o passado volte a ser futuro, mas é só lembrar que eu não te tenho aqui, me faz te querer mais, de te querer agora e pra sempre, não apenas pra me ver, pra eu guardar o teu barulho, a tua música, a tua companhia.
E quando me perguntam sobre você, digo que está bem e que agora deve estar feliz, mesmo que seja só o meu ponto de vista sendo sincero e a minha tentativa infeliz e incompreensível de tentar fugir da realidade. Sempre tive a impressão que ao ver brilho nos olhor e um sorriso sincero, seria uma forma de se chocar com a felicidade, e te julguei assim por ver você ao lado dela... contente.
Não digo que estou bem porque não há motivos para estar bem e também não vou dizer que passado é passado porque passado é história, e é a nossa história, e também não vou dizer que não vou deixar um gostinho de que estou me corroendo por dentro para me mostrar mais viva e deixar que o vento carrege essas más bagagens pra longe.
Dizem que o tempo apaga tudo. O nosso tempo pode ter passado, mas confesso que as lembranças não se apagaram ainda! Ainda. E estão pregadas no meu museo de recordações. E tento finjir, não me importar, para poder me livrar de vez do que me faz mal, e procurar uma coisa que possa trazer o brilho de volta nos meus olhos e no chão do meu quarto, nas manhãs quando acordo e transformar um momento em uma eternidade, e não um dia em anos, demorados, que nos fazem tentar pegar o controle da televisão e em apenas um toque, poder mudar o momento, a estação, o dia, a hora, a data, a companhia, o gosto, a expressão, o gesto, o abraço, o cheiro, o sorriso, a pessoa e o sentimento.
Queria poder viver desde o começo, desde cada partícula, mas acho que não quero viver o final novamente.

Agora eu quero só paz.

Só paz.

Só.

Paz.

(Vivian Fernanda)