2) Depois das 8


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"Não quero disperdiçar a chance de ter encontrado você, hoje o que eu mais quero é fazer você feliz. (Charlie Brown Jr. - Longe de você)"


O um mundo se torna cinza e nada tem mais graça. Parece que vento traz a frieza e congela o tempo e as palavras, que se tornam cada vez mais ásperas a cada segundo. Hoje o abraço perdeu o sabor e o sorriso não tomou espeço desse imenso vazio do quarto. O travesseiro já encheu de saudade e está transbordando arrependimentos que estão escapando dos olhos da menina.
O sol veio lhe fazer uma visita, mas os passarinhos já não cantam mais, respeirando a linda moça que ali descançava.
Levantou. Se olhou no espelho. Palidez pura. Mal acreditava nas palavras cuspidas no rosto de uma pessoa que mora em seu peito em que ela as atirou.
Seu coração batia em descompaço doentio que fazia com que seu rosto ficasse mais apagado, branco pó.
Cinzas são as flores do seu jardim. As nuvens até resolveram se esconder para não assistir ao espetáculo de choros e lamentações do grande passo em falso.
E o que ela quer?
Ela quer voltar no tempo e consertar o grande estrago, ou até mesmo fechar os olhos e dormir para esquecer do que fez, mas como o presente não deixa regredir, resolveu ir com o futuro para que chegasse às nove para pedir perdão e grifar o sorriso no rosto de volta, porque só assim o sol iria brilhar. Mas o dia mal começou...

*continua*

(Vivian Fernanda)

1) vende-se lembranças?


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Eu não aguento mais chorar. Não aguento ter que me importar com cada migalha do teu sorriso, de ter que carregar você no meu pensamento e a saudade no peito que me consome a semana inteira e recomeça nos finais de semana.
Eu gosto tanto que me importo demais, tento arrancar de todas as formas um sorriso pra colocar no teu rosto, em vão. Me sinto irritante por isso, me sinto culpada por todos os meus defeitos, que até tive que pedir desculpas por ser assim. Tô me sentindo incapaz de tudo.
Eu simplesmente não queria que fosse assim, não estou querendo agora e não quero mais. Quero acabar logo com essa droga que me consome a cada dia.
Não quero mais escutar tua voz no telefone e teu riso fácil. Não aguento mais ficar esperando alguma coisa de ti, mesmo sabendo que nada vai sugir derrepente. Eu só quero abraçar a solidão, porque é a única coisa que me faz bem agora. Não quero mais sentir o calor dos teus braços me embrulhando. Não quero ter que escutar o timbre da tua voz. Não quero ouvir aquele repertório de músicas que me fazem lembrar você, porque agora só me fazem chorar e me fazer incapaz de te agradar a cada instante. Não quero mais nada. Nada.

Acho que a cada dia que passa eu não te deixo feliz, e a cada dia que passa eu fico me corroendo mais ainda.

É, acabou.

*continua*

(Vivian Fernanda)


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Minhas pernas exaustas imploravam por descanso. Sentei-me, envolvida pelas notas agudas da guitarra. Eu suava, tinha gritado, pulado e cantado as músicas da GBB. GBB, boa banda, bom som, bom guitarrista, muito bom. Especialmente bonito. Feito sob medida, todos os traços de seu lindo rosto eram um convite para que minhas mãos o acariciassem. Esquece. Não vale a pena sonhar com ele. Tomei do refrigerante já sem gás. Meio amargo, não, não era refrigerante. Milhares de pessoas se espremiam, respirando uma só nuvem de ar. O calor me incomodava. A batida acelerada da bateria foi substituída por uma música lenta, de uma cantora de voz estridente, os vultos se moviam lentamente, disputando espaço. Estava mais escuro, ou era minha tontura que escureceu minha visão?

-Posso me sentar a seu lado? -vozes como esta me faz sentir arrepios, principalmente com o calor das palavras tocando meu pescoço, então afirmei com a cabeça. Minha visão embaçada do todo não me ajudava a distinguir feições, mas aquela era inconfundível. Todos os anjos tocam um instrumento celestial, o meu tocava guitarra. Sorri desnorteada e acenei com a cabeça. Ele sentou suavemente, perto o bastante para que eu pudesse sentir seu calor. Estremeci.

-Refrigerante? – ele apontou pro meu copo

-Não tenho certeza. – pegou o copo da minha mão e aspirou o perfume do líquido.

-Vodcka.

-Opa. – solucei como uma boba. – Acho que já está na hora de ir para casa... – cambaleei até a saída, empurrando as pessoas a minha volta, tropecei nos meus próprios pés desengonçados, eu não podia controlá-los, eu ia cair. Senti uma mão passar pela minha cintura.

-Quer ajuda? – me deu um sorriso ardente, acompanhado de um par de olhos atrativos. Meus músculos relaxaram e meu corpo todo se transformou numa solução maleável, deixei que o rapaz forte me carregasse.

Entramos num Impala 67, com bancos de couro brilhante. Um carro com um aroma agradável. Fui colocada no carro como uma criança.

-Sabe onde é minha casa? – perguntei desafiadoramente.

-Eu esperava que me dissesse. – ele rebateu.

-É melhor que eu vá sozinha, não quero incomodá-lo – o guitarrista dos meus sonhos estava querendo me levar em casa e eu estava querendo fugir, é isso?

-Eu ainda tenho tempo pra fazer uma boa ação – deu uma piscada charmosa.

Conversamos durante o percurso inteiro, ri, disse coisas indevidas e culpei a Vodcka. E então o Impala freiou e de repente eu estava no portão da minha casa. Com um garoto encantador a minha frente.

-Bom, está em casa. – sorriu.

-Obrigada, meu herói... – tapei minha boca, estabanada!

-Herói? – soltou uma risada. – Bom, então de nada.

Ele me deu um beijo estalado na bochecha. Tropecei. Foi então que meus lábios se tornaram dele. Pude sentir todos seus sabores misturados a Vodcka. Movíamos-nos num movimento sincronizado. Por um instante ele me fez sentir completa.

Abri meus olhos por um instante e eu estava sozinha, no silêncio de um quarto coberto pelo breu da noite. Ninguém além de uma garota procurando um guitarrista. James. “Foi um sonho?”. Minha mente martelava a mesma pergunta. “Sonho?”. Meu coração batia no ritmo da minha mente confusa. “Sonho?”. Os raios de sol entravam pelas brechas da minha janela. “Sonho?”. Eu iria descobrir com ele. Ou aumentar minha reputação de louca, talvez. Minhas veias pulsavam a procura de uma única resposta.

Foi mais um sonho?

(Vivian Fernanda + Letízia)

Luto: a morte de um sentimento


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Os dias parecem anos. O sol parece ter desistido de irradiar meu quarto, deve ter ido viajar sem dar notícias. Percebo que ele não transmite mais aquela velha sensação de que tudo ficará bem em um estalar de dedos.
Uma infinidade de emoções frenéticas que aqui passam de segundo em segundo, e sinto-me incapaz de falar, olhar, sentir tudo outra vez.
Desperto sem energias para dar um impulso e poder levantar de vez, logo nesse dia bonito, mas que ao mesmo tempo me deixa escurecer.
O sol deve estar brincando de se esconder envolta da janela, assim como brinca com o tempo e com a lua. E a terceira pessoa deve gostar de brincar com o meu coração, que dança sem parar quando ela surge na minha frente.
Os dias parecem anos! E os dias parecem anos quando a saudade de poder fazer minha mente projetar sua imagem aqui, quando a lembrança de um abraço surge apressado, de um simples sorriso, a voz, o cheiro delirante, a companhia que fazia flutuar pelo espaço, ou até mesmo uma música que me faz lembrar dos momentos que vivi na expectativa de ser intenso, leve, demorado e da votade de que nunca acabe. Em vão.
Tem dias que me sinto forte, com a esperança de que o passado volte a ser futuro, mas é só lembrar que eu não te tenho aqui, me faz te querer mais, de te querer agora e pra sempre, não apenas pra me ver, pra eu guardar o teu barulho, a tua música, a tua companhia.
E quando me perguntam sobre você, digo que está bem e que agora deve estar feliz, mesmo que seja só o meu ponto de vista sendo sincero e a minha tentativa infeliz e incompreensível de tentar fugir da realidade. Sempre tive a impressão que ao ver brilho nos olhor e um sorriso sincero, seria uma forma de se chocar com a felicidade, e te julguei assim por ver você ao lado dela... contente.
Não digo que estou bem porque não há motivos para estar bem e também não vou dizer que passado é passado porque passado é história, e é a nossa história, e também não vou dizer que não vou deixar um gostinho de que estou me corroendo por dentro para me mostrar mais viva e deixar que o vento carrege essas más bagagens pra longe.
Dizem que o tempo apaga tudo. O nosso tempo pode ter passado, mas confesso que as lembranças não se apagaram ainda! Ainda. E estão pregadas no meu museo de recordações. E tento finjir, não me importar, para poder me livrar de vez do que me faz mal, e procurar uma coisa que possa trazer o brilho de volta nos meus olhos e no chão do meu quarto, nas manhãs quando acordo e transformar um momento em uma eternidade, e não um dia em anos, demorados, que nos fazem tentar pegar o controle da televisão e em apenas um toque, poder mudar o momento, a estação, o dia, a hora, a data, a companhia, o gosto, a expressão, o gesto, o abraço, o cheiro, o sorriso, a pessoa e o sentimento.
Queria poder viver desde o começo, desde cada partícula, mas acho que não quero viver o final novamente.

Agora eu quero só paz.

Só paz.

Só.

Paz.

(Vivian Fernanda)


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Faz dias que ela tem andado perdida nas nuvens...

Admito que ultimamente meus pensamentos flutuam demais. Voam tão rápido que esqueço de tudo ao meu redor. Tudo se apaga, mas tudo tem cor e brilho. As coisas mais inuteis se tornam mágicas, e as coisas sem vida ganham movimento, o suco do café da manhã se transforma em borboletas ao descer, o dia ganha ânimo, talvez a semana... o mês...
Rio pro vento, sinto cheiro de água pelo ar, ando com olhos desligados, desatentos, e danço com a minha música ritmada.
Meus suspiros rompem o silêncio da casa e um som alto batuca descontrolado do meu peito, um sorriso brota no canto da boca, mas finjo não ser eu para não ser cega em alguns instantes porque sei que o céu pode cair a qualquer hora ou o chão se esconder por entre as nuvens.
Fico boba, rio fácil. Minha cabeça tende a ir para outro lugar e minhas pernas insistem em perder o apoio do chão. Derreto. Rio de mim mesma, acordo.
Devo ter sonhado com ele novamente.

"Não sei se foi o teu sorriso perfeito que me deixou em transe ou a tua companhia que me fez flutuar pelo espaço"

(Vivian Fernanda)

Em dias de domingo


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Esse texto surgiu de uma conversa com um amigo apaixonado que possui muitas dúvidas...

O brilho das estrelas roubou nossas palavras, então ficamos olhando para elas e rabiscando sonhos.
O tempo corria sem direção, e os instantes voavam ao lado dela. E cada vez em que eu mergulhava em seus olhos castanhos, eles roubavam a minha respiração, me faziam enxergar que ela é tudo o que eu sempre quis, e a graça do seu sorriso sempre me fazia flutuar pelo espaço.
Eu não sei descrever o que eu sinto por ela, porque miúdas palavras não mostram as grandezas de significados nos quais ela se encaixa perfeitamente. As vezes acho que minhas palavras resbalam demais. Deve ser seu sorriso perfeito que me desliga do mundo ou sua constante expressão de delicadeza que me encanta.
Tentei buscar letras em todos os cantos do céu, formações de letras em todas as estrelas, para dizer-lhe o quanto eu a amava, mas vejo que palavras já não constam no meu vocabulário. Tentei falar três palavras de sete letras, mas não achei língua, ela tinha se escondido com a voz. Era só eu e coração. O último quis saltar pra fora, mas por pouco não escapou. Eu não queria que ele pulsasse mais rápido, ela poderia querer saber daonde vem esse samba e eu não saberia responder.
Mas porque nós dois estavávamos sentados, olhando para o céu? Como chegamos até ali?
Minha cabeça transbordava perguntas sem respostas e eu ficava cada vez mais ansioso e aflito por não saber a resposta. Fiquei cercado em um mundo de mil possibilidades que talvez me levassem até ela.
Nunca disse isso a ninguém mas... Admito que ao lado dela o mundo em minha volta se apaga e eu só consigo pensar nela, só consigo enxergar ela, só consigo sentir ela.
A resposta da primeira pergunta devia ser: acho que ela gosta de mim! Ou talvez ela só seja minha amiga e goste da minha companhia.
Respirei fundo e achei que era a hora. Segurei firmemente a mão dela e atropelei várias frases em que surgiram instantaneamente de minha cabeça e finalmente falei...
- Eu te amo...
Ela jogou um olhar confuso sobre mim, mas eu continuei falando palavras doces, até que... Ela sorriu encabulada e me interrompeu selando um beijo.

Acho que enxerguei as coisas com mais graça na manhã de segunda. Estou bem. Minto. Estou perfeitamente bem. Graças a ela.

(Vivian Fernanda)

Passou, caiu, chorou.


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Ao ler, eu sei que ela vai chorar

Tudo começou rápido demais para que eu conseguisse entender a situação, sempre as palavras resolvem me abandonar e tenho que pensar sozinha.

Não era novidade chorar daquele jeito. Ao meu ver, gostava. Gostava de esvaziar as idiotices inventadas por quem não quer nada com a vida. Se importava com elas, não era segura de si. A sua vida até então, lhe trazia lembranças ruins que a memória não consegue apagar e o coração cada vez mais se sente como uma borracha, entregue as mãos de um ser que a usa para apagar seus erros. E de tanto que é usada, fica menor, fraca, suja, pequena.


Quando a vi, não consegui entender, acreditar. A máscara de uma pessoa firme e forte que estava colada em sua face tanto tempo, tinha caido. Chorava tanto que parecia que o mundo ia desabar. Foi aí que entrei em cena. Senti necessidade de conversar com ela, então fui em frente. Tentei acalmá-la de todas as formas possíveis. Eu sabia que era difícil amenizar essa sensação. Sensação de desgosto, cansaço, de querer juntar todas as suas coisas inúteis e jogar tudo em uma bolsa pra pegar um avião e morar em um lugar que te deixem em paz, aonde você não é zoada por pessoas imaturas que só te fazem mal, um lugar em que você possa fechar os olhos e respirar ar puro, e não sentir um gosto amargo que escorre dos seus olhos que caminham até a boca pela boca.

Sim, ela que ser notada. Mas ela não quer ser vista de uma forma ruim, quer ser ela mesma sem precisar de máscaras que a vida lhe ensinou a construir em alguns anos atrás. O que ela mais quer agora é viver. Viver livre, viver sem precisar se importar com a opinião dos outros. Dormir e acordar com o sorriso estampado na cara, e não com um sorriso invertido.

"Pensava diferente de tudo que um dia pensou, olhava pra rua, andava para frente, sentia carente, voou" (Banda Abril).

(Vivian Fernanda)

Notas para um mundo melhor


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Jogaram-a de um penhasco, e ao ter contato com o chão, um som seco saiu do seu peito. Seu coração gritava de dor, sua alma precisava de casa, seu mundo desabou, estava perdida.

Inconformada, voltou ao lugar do acidente, ajoelhou-se. Jogou palavras ao vento
acreditando que míseras palavras iriam mudar o passado de uma história comum. Mágoas escorrem em seu rosto. Transborda sentimentos carregados de cargas negativas que sufocam a alma e atravessa seus pensamentos incessantemente.

Andou duas quadras opostas de onde estava. Tirou as chaves do bolso e entrou em um lugar que chamamos de lar, mas agora, sem o doce. Após aquele choque emocional não seria cabível ser nomeado assim, pois sempre que precisar de alguém para abraçar, ele não estará mais lá para ter a certeza que tudo ficará bem. Agora sua estrada depende dela e dela mesma, sentia-se só.

Subiu as escadas, pegou o violão velho que ele deixou encostado na parede, sentou em sua cama e começou a dedilhar notas para um mundo melhor. Mas sua sua boca não queria emitir som, um som seco insistia sair de seu peito.

"Quando eu choro
E os dias parecem anos
Quando eu estou sozinha
E a cama onde você deitava
Está arrumada ao seu lado

Quando você vai embora
Eu conto os passos que você dá
Você vê o quanto eu preciso de você agora?

Quando você se vai
Os pedaços do meu coração sentem a sua falta
Quando você se vai
O rosto que eu cheguei a conhecer se perde também
Quando você se vai
As palavras que preciso ouvir pra sempre me fazer superar o dia
E fazê-lo ficar bem
Eu sinto a sua falta
(When you're gone - Avril Lavigne)"

(Vivian Fernanda)

Para uma rosa...


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...Que sei que não me ouvirá.

E você dormiu com o coração carregado de tinta seca. Pesado ficou seus pensamentos e suas frases mal ditas que cuspiu contra o vento. E por ali ficou, esquecidas naquele canto do ar amarelado da parte do lado do palco da cena levada. Podia ser por causa desse seu mistério, da sua feição delicada que descobri que partiram seu coração. Aquele único pedaço guardado, escondido, lacrado, que moram seus sentimentos guardados do lado de dentro do guarda-roupas do peito. Eu poderia fazer teus olhos derramarem lágrimas por quem não te quer... Mas não sou feita de papel ou de pano, sou mulher. Sou feita de romance e poesia, e vim para animar alguns dias como estes, que dormistes com o coração na mão.

Agora feche os olhos e deixe que eu repinto seus sentimentos com tinta fresca, boa noite.


(Vivian Fernanda)

Jardim = amor


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E foi assim, seu passado transbordou em um caminhão de lembranças, assim pode contemplar a beleza enquanto sorríam naquela mesa do restaurante em frente sua casa. Era um dia perfeito. Ele a olhava como se não houvesse mais ninguém nesse mundo além dela, e ela retribuia o olhar com gratidão. Seu coração estava esgotado de felicidade e havia borboletas brincando no seu estômago, fazendo-a sentir leve.
Era um tempo em que ele lhe prometera tudo. Prometera trazer-lhe flores para regá-las enquanto sentisse sua falta, e resgatar as estrelas do céu. As estrelas para penduralas no teto do seu quarto, para iluminar os seus sonhos, para enfeitá-lo.
E assim foi feito. Regar o jardim começou a virar costume. Todos os dias quando acordava ia ver suas plantinhas. Elas estavam crescidas, com a aparência forte, cores vivas, ela cuidava bem delas para não morrerem. E o amor? Também, cuidava para que ele não morresse, apesar de todas as diferenças deles, tentava cultivá-lo cada vez mais.
Cuidava porque sabia que se nós não cuidamos de um jardim, as plantas envelhecem e morrem. E ela não queria isso.


(Vivian Fernanda)

Deite, feche os olhos e sonhe


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E a vida, aos poucos lhe joga um balde de água fria para te acordar em um dia comum.

Seus olhos não brilhavam mais. A doce inocência tomou rumo, pegou a estrada mais longa e não quis mais mandar notícias e nem voltar. Ela mal sabia que aqueles olhos negros só conseguiam olhar e não ver. Garotas como aquela acreditam em contos de fadas, assim como a maioria dessas daí, de olhos cegos e mentes de nuvens carregadas de sonhos rabiscados. Elas podem até negar para tentar parecer cabeça feita, mas garotas escondem muitos segredos debaixo do travesseriro (ou do ursinho).
Me assusta essa barreira que todas possuem. Mesmo que pare de escrever em diários e contos perfeitos (ou quase), que troque os sapatinhos da xuxa por saltos de sua mãe, que pegue maquiagem escondida dela, ela nunca vai deixar de sonhar. Mesmo que deixe aquele livro grosso de contos de fada naquela estante empoeirada, ela terá a mesma cara e o mesmo coração. Será ela e mais ninguém.
Que graça teria se o mundo não existisse cores do teu arco-íris? Aquele repleto de magia, coisa que saem do seu mundo para enfeitar seu dia. Por isso garota, não deixe de acreditar só porque o outro deixou de acreditar. Viva. Cores são pra isso mesmo. Fantasia um pouco, só não fantasie demais, se não você pode acabar se trancando em um buraco e não achará um caminho pra voltar pra casa.

Como dizem "sonhe alto, mas com os pés no chão"

"
Não deixe de sonhar,
Não deixe de sorrir,
Pois não vai encontrar
Quem vá sorrir por ti - Chimarruts"

(Vivian Fernanda)

A senhora de vermelho


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O que será que ela faz sentada todos os dias na calçada do outro lado da minha rua? Será que ali planta sonhos? E colhe esperanças de sair daquela situação?
Nos dias de sol, nos dias de chuva permanece ali, parada, sentada, observando a rua. As vezes é mal respeitada e ignorada pelas pessoas, assim como nós fazemos quando não temos a menor noção de quem seja.
Ao cruzar com ela eu sorri e ela me retribuiu. Acho que ela deve conhecer muito bem a intenção das pessoas, meu sorriso foi sincero, não tive intenção de debochar da cara dela como algumas pessoas fazem, por isso ela deve ter sorrido.
E aquele caderno que carrega com ela? Será que aprendeu a escrever? Ou desenha? E a sua roupa vermelha, será que é a sua cor favorita? O que será que ela come? Debaixo de qual teto costuma dormir nessas noites frias? E o que carrega nas suas tralhas? O que pretende ser na vida? Quando será que seu sonho virará realidade?
Eu não sei, não sabemos. A mulher de vermelho é misteriosa. Sua roupa tem cor de
força, energia, amor, liderança e raiva. Só sei que ela é a mulher que planta sonhos, assim como qualquer um, assim como qualquer pessoa que um dia quer crescer na vida.

Noite de inverno


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"When I think of you, my heart sings a little love song"

Você consegue me ouvir? Esta canção que fiz é pra você. Você continua numa melodia em mim, aonde nossas notas entram em uma sinfonia perfeita. Mesmo estando tão longe, consigo escutar o som da sua voz suave fazendo cossegas em meu pescoço, que sempre me faz abrir um sorriso largo.
Lembrei do melhor dia da minha vida quando subi no telhado daquela casa aonde nos conhecemos. Corri até ele, fechei meus olhos e pude escutar sua voz, mas quando abri-os você não estava lá... mas está em todos os lugares onde estou, nas sombras, nas paisagens mais bonitas, na praça logo ali em baixo ou até mesmo no cheiro das flores daquele canteiro que roubei pra te dar.
Desde aquela noite de inverno você continua sendo a brisa quente queimando dentro de mim. Se eu pudesse pelo menos estar do seu lado agora, nenhuma palavra demonstraria a falta que você me faz, a saudade que desperta a cada instante e o amor que guardo aqui dentro.

(Vivian Fernanda)

12 de junho, à noite


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Meu relógio marcava duas da manhã e eu já estava muito cansada. Do lado de dentro fazia frio, mas no de fora não. Era eu. Não sentia nada por ninguém, mas estava quente do lado contrário, dancei tanto que preferi sentar. Vários casais estavam na pista, mas eu estava sozinha no no sofá esperando que alguém viesse, me puxasse e me roubasse um beijo no meio daquela multidão, mesmo sabendo que nada iria acontecer, continuei a te desenhar em minha mente.
Tentei te colorir de várias formas, mas não consegui moldar sua face. Parece que quanto mais eu penso, mais eu te misturo com outros rostos estranhos.
Eu queria me apaixonar por alguém que valesse a pena, queria poder pelo menos sentir aquela velha sensação que todos em minha volta sentem e poder escutar doces palavras do vocabulário incomum de um garoto qualquer e poder rir um pouco essa noite.
E no meio de tantos pensamentos confusos eu percebo que isso só me faz perder tempo, porque na realidade garotos perfeitos não existem, talvez tenha um que se aproxime com o meu padrão de beleza e de personalidade e que me faça sentir bem. Mas talvez demore um pouco até eu achar esse garoto.

(Vivian Fernanda)


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Sei que não escutarei você me chamar em um canto
e me falar o quanto gosta da minha presença,
você não estará.
Você não esteve quando chemei seu nome
e supliquei uma hospedagem em seu coração.
Você me deixou do lado de fora de sua casa.

(Vivian Fernanda)

Começa tudo novamente


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Confesso que eu esperava por esse momento a muito tempo.

Você é a minha mania, meu vício. Inúmeras vezes já tentei disfarçar, finjir que somos dois estranhos e que nada aconteceu entre nós, mas não é fácil. Quando eu te encontro eu esqueço de me enganar e penso no que nós passamos um do lado do outro. Senti muita falta daquilo que não foi. Insisti tanto, pensei em desistir de ti, mas de repente você me trouxe de volta pros teus braços e me fez sentir borboletas no estômago, como antes.
Talvez não tenha sido um bom começo, mas descobri que na realidade aquilo não foi começo e que agora estamos caminhando nessa longa estrada. Talvez nossas brigas só serviram para nos aproximar mais e nos mostrar o quanto nós gostamos um do outro. Descobri que te amo cada vez mais e a cada dia que passa você me faz sentir completa porque... Você está presente nos meus sonhos, na realidade sempre esteve.

- para lydia freitas, a menina que está sentindo borboletas no estômago novamente.

(Vivian Fernanda)

Um pouco sobre meus textos


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Alguém já deve ter notado: meus textos só trazem saudade. Eu já tentei, mas sempre acabo envolvendo principalmente esse sentimento nos meus textos. Não é nada fácil escrever uma coisa que observamos no dia-a-dia e ultimamente as pessoas gostam de escrever sobre amor, amizade e saudade.
Quem tem blog sabe que é mais fácil escrever sobre um sentimento distante do que um sentimento muito próximo e alegre... aquele sentimento que você sente quando ganha aquilo que deseja, ou quem deseja! Ou melhor... é fácil escrever algo por alguém que você gosta muito porque esse sentimento é verdadeiro.
Escrevo as coisas que me cercam, não gosto de frases feitas sem menor sentido, gosto de te deixar pensando sobre a intensidade das coisas. As vezes é tão difícil pensar qual será o próximo post que surgem tantas ideias que nem sei como organizo-as. Admito que todos os dias de manhã eu penso sobre isso e eu comecei a observar mais as pessoas desconhecidas na rua.
Adoro romance, e também suspense. Gosto de coisas completas e não interrompidas. Gosto de tudo quando começa, e não de quando ou como elas acabam sem menor sentido.
Meus textos possuem muito sentimento, porque sem sentimento nós não vivemos.

(Vivian Fernanda)

Desce aqui


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A cor dos teus olhos roubam a minha respiração

Dois diamantes que colorem perfeitamente sua face

Duas piscinas de tonalidades misturadas

Verde ou azul?


Tuas palavras, tuas histórias

Você me faz sonhar

Voar e pousar dentro delas


Tua ausência está

Em todos os cantos

Vazios de minha casa


Volta pra cá

Desce aqui

Sente aqui do meu lado

Preciso conversar contigo

Preciso te sentir


(Vivian Fernanda)


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"Queria que meu lugar fosse aqui, mas algo parecia tão errado". (Avril Lavigne - Breakaway)

Despertou com o toque irritante que a faz acordar assustada todos os dias. Vestiu a roupa das sensações diárias e andou dois quarteirões até chegar ao colégio. Esperou seis tempos de aula para que pudesse voltar para casa. Chegou. Comeu um lanche e voltou para o mesmo lugar, mas agora estava entusiasmada porque conseguiu um papel no teatro. Subiu no palco e vestiu a máscara da mentira. Enganava a si própria e ao público, que imaginariamente lhe assistia. Esgotou o tempo da aula. Deslocou-se em frente a algumas salas. Sentou em um banquinho azul.

Ele estava presente. Caminhou em sua direção e parou em sua frente. Resolveu dar um sorriso meio desbotado e retalhado. Os olhares deles se encontraram, de um jeito incoerente, como se estivesse acontecendo algo de ruim, mas que ninguém tentasse impedir. Ele respirou fundo e tropeçou em palavras inconvenientes, assim como cospem no chão quando algo é ruim, nojento. Não era o que ela esperava, mas o destino revolveu atirá-la contra o chão. Dói, machuca, desgasta. Atirou-as de volta para o mesmo lugar aonde foram arremessadas. Aquele lugar ficou vazio, miúdo também. Vestiu-se então a fantasia do desgosto e da saudade. Voltou para casa.

Lembrou-se de cada raio de sol daquele dia, e das gotículas de chuva que caíram das nuvens dos seus olhos serenos. Carros buzinavam na rua, pessoas falavam em um elevado tom. Mesmo com bastantes corpos se movendo, viu o mundo sem cor, a comida ficou sem gosto e suas fantasias já não faziam mais graça nem efeito. Durante horas misturavam-se uma junção de momentos, palavras, sentimentos e erros, que ficavam cravando sua consciência. Já não sabia o peso das palavras e muito menos dos seus gestos. Os minutos estavam passando rápido. E o amor? Também.

"Você me dá razões que eu nunca pareço entender, elas não fazem sentido, talvez não sejam suficientes para o meu coração, veremos, não foi um bom começo". (Avril Lavigne - All you never know)

(Vivian Fernanda)

Bagagem


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Achou que a terceira pessoa lhe caia bem, mas o relógio (da vida) parou de funcionar por falta de cuidado, e o tempo se perdeu entre eles.
Uma folha foi rasgada ao meio, cada pedaço partiu-se para direções opostas (assim como todo mundo espera que seja) e a usaram para rascunho, que ficou borrado, sujo, com letrinhas rabiscadas ou com imagens mal feitas, e sem vida esse papel ficou desgastado.
Usou a voz dos mudos e a máscada do teatro, chorou no violão notas pra ninguém, e fez um som desagradável, assim como ardem suas palavras de tocar no assunto.
Pendurou no seu museu de lembranças, porém não deixou-se levar pelo esquecimento e guardou entre sólidas paredes do coração.
Só deixou pendurado para que não possa esquecê-lo, porque talvez ela ainda se importe com a bagagem que carrega na mente e no coração.

(Vivian Fernanda)

A insuportável transparência das coisas


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"Aquilo que não foi, e que esperavam que fosse".

Te vejo, menina, com um olhar perdido, desejando não acreditar em toda a verdade que está te corroendo.
Te vejo, menina, em lugares barulhentos, mas você parece estar distraída a todo esse movimento, deve estar com um pensamento distante.
Sento ao teu lado, te pergunto se está tudo bem, mesmo sabendo qual é a resposta, e você afirma, e sei que mentes pois sua expressão e seu jeito reprimido não me enganam nada.
Eu sei, porque participo deste elenco que participas e sei que um bom ator brinca de enganar em cima do palco.
Você chora ao lembrar-se, esconde o rosto.
Era frio, mas eu não sabia se estava mais gelado no lado de dentro da tua blusa, ou no de fora.
Dentro de ti, esse balde de água fria que te despejaram, fez com que essa chama quente se apagasse, virou cinzas, e você está tentando varrer para o lado de fora do seu coração.
E qual é o nome do espetáculo?
" Amor líquido...

Quando sabemos que ele precisa morrer mas não temos coragem de matá-lo"

(Vivian Fernanda)


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Retiro-me desse lugar antes que eu cause mais danos e quando as coisas ferverem mais ainda, você pode me culpar por tudo isso. Já era uma velha novidade desamarrar os cadarços da língua e falar o que eu bem entendia, mas o que eu não sabia era que pessoas pussuíam sentimentos e que eu, inconveniente e sem notar, cutucava os sentimentos mais profundos delas.
Quando acordei em minha cama, eu tinha tudo, mas eu estava sozinha nessa estrada. Peguei umas das caixinhas que me mandaram escolher e abri, veio cheia de momentos que eu desejei poder mudar, mas já era tarde. Ninguém vive sozinho, e eu precisava mais do que tudo alguém ao meu lado.
Se eu pudesse falar contigo, gostaria que soubesse que estou me sentindo perdida, mas não estou partindo porque temos histórias para descobrir, livros a serem escritos por nós e contos para serem recontados. Foi com você que passei a maior parte da minha vida aprendendo o prazer de viver.

- Para a mulher que pedi perdão.

(Vivian Fernanda)

Sem você


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Quando soube que meu pai morreu na véspera do meu nascimento senti um vazio. Isso me deixou sentindo como se eu não estivesse viva.
Desde que eu nasci minha mãe sente a falta dele, eu sei disso, ela transmite. Eu nunca pude ver o rosto dele, eu nunca pude sair pra jantar fora, ou simplesmente abraçá-lo. Ele morreu. Tiraram de mim a oportunidade de viver com ele.
Abri umas das caixinhas que mamãe escondia no porão e vi algumas fotografias que estavam lá dentro. Haviam várias fotos deles juntos, eles eram tão felizes.
Ainda não consegui entender, parece que estou em um pesadelo, em qual eu queria poder acordar e sentir um alívio por não ser real.
Está ausente teu lugar na mesa, falta tua voz, falta teu vulto.
Queria poder conversar contigo pai, falar de tudo sobre o que me ronda, mas não estas mais aqui. Sem você minha vida é imperfeita.

"Cedo ou tarde a gente vai se encontrar tenho certeza, durma bem melhor" (Nx Zero)

(Vivian Fernanda)

Obs: O marido da amiga da minha mãe foi assassinado esses dias, e essa mulher está grávida, a criança vai nascer daqui a alguns dias, e eu sei como machuca isso tudo que esta acontecendo na vida dela e fiz esse texto pensando nela. Meu vô morreu dia 09 de abril de 2008, e eu sinto uma imensa falta dele, e ontem foi dia nove de abril e fazem dois anos que ele morreu. Por eles dois entrego meu silêncio.

Pontes indestrutíveis (continuação de "A mudança")


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"Porque toda vez que você me segura em seus braços, Eu fico confortável o bastante para sentir o seu calor" (Colbie Caillat)

Dez anos se passaram. Já terminei a faculdade e tenho um emprego. Em uma tarde, no trabalho, andando no corredor da minha empresa recebo uma ligação. Era Clara, e com o decorrer da história, ela começa a falar nos seus "papos furados" novamente. Eu não estava disposta para ouvir, mas permaneci falando com ela.
- Mas você precisa de um namorado, Liz! Sinceramente você está muito ocupada com o trabalho - Clara repetia imensas vezes.
- Eu já disse que eu quero apenas me focar no trabalho, Clara. Se eu já estou cheia de coisas para fazer aqui, imagine se eu tiver um namorado? Não vou ter tempo nem para mim, nem para ele.
- Eu nunca te vi com um namorado, e aposto que você nunca namorou! - ela disse.
- Eu já namorei sim, está bem? - alterei meu tom de voz - Eu... só não quero isso agora! Será que você pode entender?
- Eu sei, mas você pre... ela não conseguiu terminar a frase pois alguém esbarrou em mim, fazendo com que minhas pastas e meu celular caissem no chão.
Abaixei e peguei algumas coisas caidas que ali estavam, levantei e comecei a organizar-las uma a uma. Eu já estava com preguiça de abaixar e catar tudo quando o rapaz abaixou-se e começou a juntar tudo por mim.
- Desculpe - implorava ele - Desculpe mesmo.
- Pare com isso, já passou! A culpa foi minha, eu estava distraída no telefone. Mas você esta me ajudando muito.
Ele se levantou, passando-me o resto das coisas que haviam caído.
- Obrigada. - eu disse.
- Por nada! - ele respondeu.
Então nós olhamos um para o outro. Um silêncio desconfortável invadiu o corredor e resolveu enturmar-se conosco. Não era um tipo de reação que devia ter acontecido, e também não sei como que eu tinha um formato de rosto idêntico ao dele pendurado em minha mente. Eu conhecia ele de algum lugar, só não sei de onde.
- Com essa correria toda eu acabei nem me apresentando. Meu nome é Liz!
Os olhos dele pareceram brilhar quando eu disse meu nome.
- O meu é Lucas.
Acho que ele roubou meu ar. Uma luz se acendeu em mim, e pude ver todo o meu passado em pequenos instantes. Que surpresa agradável, era ele sim, era Lucas.
- Oh meu Deus, não acredito que seja você. Quanto tempo! - eu abracei ele.
- É mesmo. - Ele pareceu lembrar-se de algo, olhou o relógio e deu um suspiro longo. - Liz, desculpa, eu tenho que ir. - Ele virou-se para saída, mas depois voltou a me olhar. - Eu adoraria jantar com você hoje. Aceita?
- Claro. - respondi.
Contive minha emoção. Tudo que consegui falar naquele momento foi um simples "Claro". Na realidade eu queria poder dizer mais do que isso.
O horário do jantar chegou. Ele me levou em um restaurante incrível. Sentamos e começamos a conversar sobre tudo, em poucos minutos eu já sabia tudo sobre ele, família, amigos, tudo!
Já estava tarde e amanhã eu tenho que acordar cedo, achei melhor eu ir.
- Desculpe-me. - disse, levantando-me da cadeira. - Tenho que ir.
Virei-me e comecei a caminhar até o carro. Eu não consegui andar muito quando senti uma mão na minha cintura e ele sussurrando em meu ouvido:
- Lembra daquela promessa que eu te fiz ainda criança? De nunca te esquecer?
Balancei a cabeça afirmativamente ainda de costas para ele.
- Sabe, Liz, eu cumpri.
Um sorriso brotou em meus lábios. Virei-me, olhei no fundo dos seus olhos e disse:
- Sabe Lucas, eu também cumpri a minha. - dizendo isso passei os braços pelo seu pescoço, abraçando-o.
- E... Você é a única com quem eu ficaria até o final. - ele sussurrou
E mais uma vez eu pude sentir seus lábios contra os meus, depois de tanto esperar por esse momento eu pude sentir essa brisa quente queimando dentro de mim novamente.

"
Por isso vou por esta canção no repetir" (Colbie Caillat)

(Vivian Fernanda)

A mudança (continuação de "até logo")


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Sentei-me no banco de trás, virei e mandei um beijo para Clara, que estava na frente de sua casa com a mãe dela. Cochilei no colo do meu irmão mais velho, acordei e já eram quatro horas da tarde. Nós já estávamos chegando na cidade. O cheiro de girassol se aproximava, olhei para a janela e ali estavam. Fechei os olhos e senti. Era tão doce. Era tão belo.

Eu já estava acostumada com mudança mas não gostava muito. Sempre estive envolvida com mudanças de cidade, de casa, de bairro, de escola. Tudo está tão certo, de repente vira uma bagunça. Com o tempo consegui me organizar. Sei que não é nada bom deixar amigos longe, mas eu não tenho escolha, sou menor de idade, e se meus pais querem, tenho que obedecer.

Passaram-se um mês e eu já estava em um colégio novo. Conheci um garoto, Lucas, ele ficou muito próximo de mim em apenas alguns dias, isso era incrível. Nunca aconteceu isso antes. Nunca tive um amigo homem.

E, sim, eu ainda sentia falta de Clara, mas parece que quando estava com ele todos os meus problemas simplesmente sumiam. Era como se ele causasse isso em mim, esse efeito anestesiante, sem dores, preocupações, ou qualquer outra coisa que pudesse me fazer sofrer.

Mas então aconteceu o inevitável, a mudança novamente, e por incrível que pareça é para o mesmo lugar de antes, onde mora Clara. Eu iria revê-la, então porque tanta tristeza dentro de mim?

Engula isso, ordenei a mim mesma, engula essa tristeza. Tudo vai ficar bem. Assim como ficou das outras vezes. Assim como fica sempre.

Cheguei no colégio logo de manhã e fui dar a notícia para ele.

- Eu preciso ir. – Sussurrei, despedindo-me de Lucas.

- Você não pode me deixar sozinho, Liz. – Disse ele, apelando com seus olhos.

- Não posso opinar simplesmente em nada, estou partindo amanhã. – abaixei a cabeça

- Eu sei. É só que... Eu acho que... – disse ele aproximando-se de mim – Eu gosto de você.

O silencio tomou conta do lugar. Pude ouvir sua respiração ofegante. Olhei para ele e tomei coragem para falar o que eu queria ter dito a muito tempo.

- Eu gosto de você também. – respondi encabulada.

Minha boca se tornou um encaixe perfeito à dele. Parados ali nos beijamos. Foi a primeira vez que me senti daquele jeito. E também foi a primeira vez que gostei de mudanças e queria permanecer ali. Mas havia hora marcada para ir embora daquele lugar.

(Vivian Fernanda)